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terça-feira, 6 de janeiro de 2009


Ao ver o filme Laranja mecânica pela milésima vez, resolvi elaborar um texto que tem como objetivo interpretar o filme Laranja Mecânica de Stanley Kubrick a partir do ponto de vista de dois textos de Freud: O problema econômico do masoquismo e O mal-estar na civilização. Antes de partir para a análise do filme, no entanto, introduzirei a atmosfera em que este se dá.
O filme descreve a trajetória de Alex, líder de uma gangue de criminosos, cujo objetivo é simplesmente subverter a ordem e causar dor e sofrimento às vítimas de suas atrocidades. Alex, imerso em uma satisfação auto-erótica, comete diversos crimes, como estupro e assassinato, até ser preso e participar de uma experiência científica que anula a possibilidade do extravasamento das pulsões agressivas, aniquilando concomitante a isso também sua subjetividade. Ao ser agredido por uma de suas vítimas, o personagem se joga de uma janela no intuito de acabar com seu mal-estar.
Logo na abertura do filme um diálogo entre um mendigo, prestes a ser espancado, e o líder perverso de uma gangue nos chama atenção. O mendigo diz não se importar com a violência dirigida a ele, pois não quer mais viver nesse mundo, que ele mesmo denomina fedorento. Ao ser perguntado a respeito do que há de fedorento no mundo ele diz que este fede porque a lei e a ordem não existem mais, afirmando que desde que o homem foi à lua e passou a girar ao redor da terra não se preocupa mais com a lei terrena.
Na fala do mendigo está presente uma articulação entre a modernidade e os avanços tecnológicos e a inexistência da lei e da ordem. A lei como limite simbólico era encarnado para Freud na figura do pai, responsável por barrar e impor um limite à satisfação imediata das pulsões. Mas, em uma sociedade cujo tecido social está baseado e orientado pela perspectiva científica: “posso tudo”, não há mais lei que possa impedir o movimento narcíseo dos personagens da gangue.
Assim, se a entrada na cultura marca para Freud a renúncia às pulsões sexuais, como fazer em uma cultura cujo discurso é sustentado pela falta de limite? No decorrer do filme assistiremos o reflexo catastrófico de uma cultura perversa tanto a nível individual quanto nas diversas esferas do âmbito social, como no sistema prisional, na religião, na política e na experiência científica de condicionamento respondente.
Comecemos pelo sistema prisional. Na lógica totalitária da prisão todos os indivíduos precisam obedecer cegamente à ordem de seus superiores, não restando o mínimo espaço para a diferença. Na tentativa de garantir a ordem, as pulsões agressivas são suprimidas, a fim de homogeneizar e igualar o máximo possível todos os indivíduos desse grupo. A homogeneização dos sujeitos é feita pela pulsão de vida, que investindo libido nos objetos do mundo tece uma rede que conecta todos os seres.
No entanto, Freud nos alerta que não há como acabar com as pulsões agressivas, a não ser na morte, e que a repressão destas sem nenhuma ou com pouca elaboração pode proporcionar a criação de um superego tirânico. Ou seja, não havendo expressão no mundo externo, as pulsões agressivas retornam contra o próprio ego do sujeito mediante a ação do superego.
O sistema prisional marcado fortemente pela repressão intensa das pulsões agressivas se vale ainda de um outro artifício, não menos repressivo e alienante, a religião. Nas palavras do padre: “... vão dar ouvidos à palavra divina e se dar conta das punições que esperam o pecador impenitente no outro mundo, assim como neste? ... pois eu conheço provas irrefutáveis de que o inferno existe.”
É evidente nas palavras do padre o tom de apelo à tortura, a punição e a dor como formas de combater a pulsão de morte inerente a todos os sujeitos. Nesse caso, a renúncia das pulsões é justificada pela existência de um além- mundo, o inferno, em que os criminosos estariam sujeitos a toda sorte de infortúnios.
Mas, abraçar a religião, nesse sentido, implica na anulação das diferenças, e, consequentemente, no apagamento da subjetividade e singularidade de cada um, já que a renúncia da pulsão de morte, responsável pelo desprendimento de libido dos objetos também resguarda a possibilidade da diferença entre os sujeitos. É por isso que para Freud, o preço que se paga pela religião é sempre, em algum nível, a alienação. Tal afirmação é revelada de forma transparente na canção religiosa que os presos são obrigados a aprender: “Eu não amava o rebanho, não amava a voz do meu pastor, não queria ser controlado.”
A formação do rebanho e a escuta obediente da voz do pastor, encarnado no lugar de Outro, não pode vir sem uma grande parcela de alienação, restando ao indivíduo não o lugar de sujeito, mas de objeto manipulado e controlado (não sem o seu consentimento). Nesse movimento, os sujeitos transferem o poder de decisão ao pastor, eximindo-se de responsabilidade por suas próprias escolhas.
Todavia, para nosso personagem perverso a alienação na religião não é uma escolha possível, sendo sua dedicação aos cultos e a leitura bíblica apenas um atalho para a conquista da liberdade. A possibilidade de se ver livre para perpetuar seus atos criminosos surge quando Alex decide se submeter a uma experiência científica, cujo objetivo é anular, através do condicionamento respondente, o impulso à violência e a agressão.
No programa de recuperação de criminosos, Alex é induzido, por efeito de drogas, a sentir-se mal quando submetido à visão de cenas de violência. É nítido o mal-estar e o sofrimento ao qual Alex é infligido a partir do experimento (o qual, diga-se de passagem, também é bastante perverso), mas, mesmo assim, os cientistas estão convictos de que podem, mediante um experimento controlado, trazer a cura para a criminalidade.
Dessa situação podemos depreender a postura onipotente da ciência, que, não reconhecendo o seu próprio limite, alcança o auge de toda agressividade possível: acabar com toda agressividade.
O experimento ao qual Alex foi submetido é subsidiado, por sua vez, pelo partido político que pretendia se eleger. Em uma das discussões entre o político e o padre podemos tirar algumas conclusões importantes. O padre questiona o programa de recuperação de criminosos da seguinte maneira: “Ele deixa de ser um malfeitor, mas deixa também de ser uma criatura capaz de escolhas morais”. Ao que o político responde: “Não estamos preocupados com motivos, com éticas elevadas, mas apenas com a diminuição da criminalidade. Ele será o seu verdadeiro cristão, pronto a oferecer a outra face...”
O raciocínio do padre é interessante, pois para alguém incapaz de manifestar qualquer parcela de agressividade não há também a liberdade de escolha que faria dele um sujeito. Ao ser impedido de fazer escolhas éticas, mais uma vez a subjetividade é anulada. Dito de outro modo: ao suprimir as pulsões agressivas, a pulsão de vida que responde pela possibilidade de relação e conexão com o mundo também fica prejudicada. A resposta do político, então, denuncia e corrobora mais ainda a não responsabilidade de um governo perverso, que desconsidera a toda a diferença possível em nome do poder.
Numa cultura em que a lei não é garantida a nível do simbólico resta a tentativa de restituir algum limite através da repressão intensa das pulsões, todavia, como a aniquilação total
“Eu estava curado mesmo”.

8 comentários:

  1. put'z mew, ñ posso dizer nada, nunca assisti esse filme =/

    te peguei na central d blogs do orkut
    dispois dexa tua marca nbo meuz tb ok'z...



    bjauns
    http://punkobescene.blogspot.com/

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  2. Nooossa, não consegui ler tudo naum, é muito longo mas li metade e posso dizer que é um otimo post. Eu ja assisti o filme, não sei extamente o caráter do filme, pois assisti meio sem saber do que se tratava, ai depois fui dar uma revirada pela net e encontrei vc. O filme é muito bem feito, e mostra muitas coisas que valem apena pensar sobre... seu texto ajuda pessoas como eu (que naum tem lá um censo critico histórico tão forte, ou nenhum) Muito bom

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  3. Boa análise para um clássico do cinema. Esse marcou época.

    Um amigo pesquisador escreveu um artigo sobre esse filme. Se tiver interesse, posso ver com ele e ter repassar por email.

    abs
    www.euforiamelancolica.blogspot.com

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  4. Pra ser sincero,apesar de ser um clássico,nuca assisti!Mas pelo seu post concerteza irei locar!
    Todos falam desse filme,dizem realmente que a historia é ótima!

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  5. otimo txt
    poxa, muito bom...
    ouvia tanto sobre esse filme
    mas nunk me disseram do q realmente falava
    soh me disseram bobagens...

    http://historiaspraboidormir.wordpress.com/

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  6. Nunca tinha lido nada sobre o filme, me parece ser interessante. A história me pareceu instigante, mas só assistindo pra saber se ficou bom mesmo!

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  7. Milésima vez?
    Já chega de ficar na vontade: VOU ASSISTIR.

    http://bsalgada.blogspot.com

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  8. Preciso assistir a esse filme pela segunda vez. Só o vi uma vez, quando cursei o ensino médio, e o achei violento demais, absurdo, insano. Não me atrevia a voltar a ele. Mas acho que já estou pronto pra encarar o Kubrick novamente. Mas aquelas "coisinhas" que mantêm os olhos abertos... que nervoso!

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